As Paranoias de Alastair Dias

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Espalhe as Paranoias

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Bem, seguimos com a nossa jornada blogueira.
E hoje é dia de conto. Um texto breve e e versos (e sem rimas). Espero que curtam.


Camila se olha no espelho, toca-o; está úmido.
Ela se vê e vê além da aparência física;
É ela e não é ela, é a menina-moça,
A jovem de quinze anos que ela vê,
Mas há algo mais além, uma imagem nova,
Alguém que parece com ela
― Mas não é ela.
Quando toca o espelho líquido, toca a sua alma,
A sua parte mais íntima e secreta,
Ela toca a sua parte metafísica,
Uma parte antes intocável.
Camila agora toca a sua intimidade,
Autodescobre-se, sente a sua alma triste,
A sua alma jovem, a sua alma abandonada.
Quando o faz, vê em sua frente,
No gélido e úmido reflexo do espelho,
Uma jovem triste, lágrimas nos olhos,
Cristais líquidos rolando pela face branca.
É a tristeza que a domina, que a atormenta,
Um sentimento que ela oculta há anos,
Que ninguém sabe, que ninguém nota.
Camila tenta falar, mas nada sai,
Nenhum ruído, nenhum som, a voz some.
O pensamento é transmitido e captado,
A dor que apenas ela sabe e sente
É agora refletido e compartilhado pela imagem,
A imagem líquida do espelho.
Lembranças de tempos passados,
Quando era ela uma criança inocente,
Tempos felizes de infância,
Tempos que nunca voltarão.
Ela toca mais fundo o espelho,
Sentindo mais frio do que antes,
Sentindo a dor mais profunda de sua alma.
Surge na mente de Camila outra lembrança,
Esta mais triste, negra, macabra, sombria,
De um momento que a garota gostaria
Que nunca tivesse acontecido a ela,
Que fosse somente um pesadelo, e não real.
Aquele homem a agarra, beija-a, bate,
É rude e violento, ameaça matá-la se gritar,
Ameaça matar a sua família.
Ele a obriga fazer algo horrível,
Numa noite em que a menina está só,
Sozinha em sua casa, vendo a novela.
Aquele homem leva a sua infância,
Usurpa a sua inocência, faz sangrar
Tanto física quanto emocionalmente.
Adentrando ainda mais o espelho líquido,
Ela sente-se fraca, os sentidos falhando,
Mas ainda tem forças para ver a figura
Que agora ostenta uma barriga saliente.
De repente um acidente de carro
E o bebê não passa dos cincos meses,
Fato que agrava a sua dor.
E assim Camila adoece a alma,
Desejando parar de viver,
Tudo sem que ninguém perceba, ninguém saiba.
 
Quando o seu corpo entra no espelho,
Ao encontro de seu reflexo triste,
A jovem fecha os olhos negros, sentindo a paz,
A tranquilidade de um destino almejado.
Ela e a sua alma se encontram,
Completam-se totalmente,
Harmonia perfeita e eterna.
Não há mais dor para a jovem Camila.
Na manhã seguinte, quando a mãe da jovem
Entra no quarto, para acordá-la,
Encontra-a caída no chão, em frente
Ao enorme espelho da parede.
Quando se aproxima, desesperada,
Vê uma imagem que a apavora:
Sua filha, a Camila de pele branca,
De olhar triste e vida sofrida,
Brinca consigo mesma, entre rosas brancas,
Borboletas negras, floresta sombria,
Agora com um olhar alegre e sorriso feliz.


E por hoje é isso. Espero que tenham curtindo o conto/poema.

E aquela imagemzinha que os manolos gostam:

E tem a ver com o conto... ¬¬

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Papai Noel esconde seus segredos por 364 dias.
 Hohoho!
Vamos à postagem natalina das Paranoias!
Tirem as crianças de frente do computador, afastem o namorado, mudem de blog e nunca mais me visitem!
Ainda aqui?!
Pois bem, vamos ao motivo desta postagem, certo?
Natal logo aí, cantigas chatas e viciantes, presentes, filmes com a temática abusiva, Papai Noel... ¬¬
Para que tudo isso?
Para nada, nada, nada.
Sim, caros leitores!
Pode jogar no Google, o Grande Mestre que Tudo Sabe. Não há base nenhuma, NENHUMA para dizer que Jesus nasceu no dia 25 de dezembro. MAS, Ele nasceu nesta data, dirá um natalista (quem crer no Natal). Sim, onde se diz isso? O.o
Para começo de conversa, não está na Bíblia qualquer menção de 25 ou dezembro. Pode procurar. Até desafio um teólogo ou pastor e/ou padre a procurar. Não irão achar NADA!
Mas, veja bem este trecho: “Em 221 EC, o historiador cristão Julius Africanus cravou o nascimento de Cristo no dia 25 de dezembro, dia que era celebrado o culto ao deus persa Mitra, que ganhou dos romanos uma data e celebração especial: O Festival do Sol Invicto, comemorado no dia 25 de dezembro. A igreja gostou, pois desta forma poderia angariar mais fiéis e melhor, de forma mais fácil, e assim, a partir do século 4, quando o cristianismo tornou-se a religião oficial do império, começaram as comemorações do nascimento de Cristo a ser realizadas no dia 25 de dezembro, o que perdura até os dias atuais.”
Interessante, né?
Mas, continuemos nossa pequena aventura.
O que evoca o Natal? Presentes... ¬¬ Eu sei. E o que mais? Sim, o Bom Velhinho, aquele senhorzinho de gorro vermelho, gorducho e que só aparece no fim do ano para angariar bilhões e bilhões de dólares e ficar mais rico que o Tio Patinhas!
E qual a sua origem? Não, não foi a Coca-Cola! Eu sei, ele usa roupas vermelhas e bebe refrigerante, mas não é membro da companhia!
Então, porra, de onde veio a droga do velho!
Não precisa gritar!
Aqui, aqui e também este aqui, mais exagerado e fanático, dizem muito sobre este cara. Ele tem várias origens (pagãs) e aparências, todas bem interessantes, embora eu prefira a que ele é um cara fodão que castiga as criancinhas com chicotadas e rouba toda a comida que encontra; e aí de quem não der alimento a este ser guloso! Se não o fizer, terá um bom tempo de azar! Tem, inclusive, um filme sobre o tema.
Bem, aqui concluo minha postagem especial de Natal (a primeira com uma paranoia) e espero que tenha contribuído para uma noite maravilhosa. Ou um dia, nem sei.
E para os manolhos que aguentaram ler isto, brindo-os com imagens muito inspiradoras.


Para que neve?

Eita!

Você negaria uma carona?

Mamãe Noel...

As ajudantes do Papai Noel.

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Olha eu outra vez em mais uma postagem sobre minhas paranoias.

E o que temos para hoje?

....................

Ah! Claro!

O amigo Rochett Tavares organizou uma antologia intitulada Os Selavagens Cães Cadáveres de Guerra!

Mas que porra é esta, você me pergunta, certo?

E deixo que o próprio organizador responda:


"Finalmente saiu!

Depois de um longo tempo, Os Selvagens Cães Cadáveres foram soltos! Sete contos onde os horrores da 2ª Guerra Mundial são descritos de um modo como você jamais viu!

Participaram deste projeto os amigos Alastair Dias (O Formigueiro), Celly Monteiro (Sim, Senhor), Marcelo Augusto Claro (Polyushka Polye), Eric Musashi (A Solução Barbarossa), os estreantes Monica Krupp (Volta ao Lar) e C. R. Gondim (Frank).

Não resisti e, de última hora, também resolvi incluir um conto meu redigido especialmente para a coletânea (Pelotão 356).

Esse livro é a união de duas coisas que atiçam o imaginário humano: o horror e a 2ª Grande Guerra. Leitura de excelente qualidade para aqueles que possuem o coração forte e não tem medo de mergulhar na história dentro da história; nos bastidores de um conflito cujas sequelas ainda hoje ecoam em nossa realidade.

O links para o download do Ebook são:
Ebook Os Selvagens Cadáveres de Guerra Link01

Ebook Os Selvagens Cadáveres de Guerra Link02"

Mas, por que baixar este e-book sem um aperitivo?
E cá vai eu dar uma amostra do que está nas páginas desta antologia de zumbis e sangue.


O Formigueiro
Alastair Dias


I – Zelda
A pistola apontada para a cabeça e um prato nojento de carne humana eram coisas que amedrontavam a todos, pois ou comiam o que lhes era oferecido ou levavam um tiro no meio da testa, acabando com aquela existência degradante. Claro que os infelizes acabavam comendo aquilo, apesar de muitos preferirem a morte e não terem coragem de abraçá-la.
O sabor da carne crua era nauseante, sobretudo se a mente lembrasse ao estômago que era de um homem ou uma mulher — ou criança, na mais extrema hipótese. Talvez a fome ajudasse na execução da refeição, mas a maioria tinha muita dificuldade para ingerir o alimento.
Os soldados se divertiam ao verem aquelas raças inferiores comportando-se como animais, como de fato eram e pregava o Führer. Um ou outro chutava uma das cobaias apenas pelo prazer de humilhá-la mais um pouco ou matá-la com um tiro na cabeça, espalhando os miolos pelo piso e obrigando as outras a comerem-nos.
O campo de concentração não servia para executar os inimigos da causa e a escoria humana, como ocorria com tantos outros, e sim para testar uma centena de coisas que a ciência nazista vinha se dedicando há anos. Alguns testes envolviam a purificação das raças inferiores, a criação de outra superior, a ariana, e o aperfeiçoamento dos soldados.
Apelidado de “Formigueiro” por se encontrar abaixo da terra e ter inúmeros setores, o local ocultava todos os segredos dos estudos sobre experimentos científicos e místicos, aqueles que se ouviam boatos estranhos e nenhuma confirmação. Os resultados obtidos, fossem positivos, negativos ou duvidosos, eram passados e repassados a outros núcleos, que os analisavam e entregavam-nos ao Führer.
No setor de Purificação das raças, que era um nome carinhoso para uma área onde ciganos, judeus, homossexuais e outros membros das raças inferiores eram usados como cobaias para inúmeros testes genéticos, físicos, psicológicos, químicos e biológicos dos mais diversos. Se bem sucedidos, as cobaias iam para outro setor, o de Vigilância; se falhassem, o Buraco estava pronto para os cadáveres.
Seguindo o trajeto pelos corredores, os olhos da garota vislumbraram um enorme salão cheio de colchões, aposento em que homens e mulheres, todos de aparência germânica, pele branca, cabelos louros, olhos azuis e de perfeita forma física se acasalavam como animais, sob os olhares de cientistas que anotavam tudo em pranchetas. Aquilo era estranho, mas devia ter algum fundamento, pensou ela, desviando o olhar.
Claro que havia, pobre órfã! O setor no qual passava se chamava Aperfeiçoamento da Raça Ariana, uma parte do Formigueiro que realmente era mais agradável, pois havia boa comida, bebidas refrescantes e saborosas, conforto e condições dignas a um ser humano, fora o fato de ocorrer orgias diariamente com o intuito de produzir o melhoramento completo da raça ariana.
Ao desviar o olhar negro, a moça notou a presença de um rapaz lindo, embora levemente machucado no rosto e bastante maltratado no vestuário. Esboçou um sorriso simpático, mas não foi notado por ele, que mantinha a cabeça abaixada, sereno.
Após um longo caminho percorrido, os novos prisioneiros chegaram aos setores que ficariam trancafiados, a Câmara. Era dali que se retiravam as cobaias para a Purificação ou servos para alguma tarefa desumana. Era ali o lar das raças inferiores e impuras capturadas, onde serviriam a um bem muito maior do que suas vidas insignificantes.
Descrever o ambiente seria como descrever a sala de espera de um matadouro: paredes, teto e chão muito encardidos, descascando na maioria de suas extensões, cheios de goteiras, vazamentos e musgos, rabiscos ilegíveis e símbolos esquisitos; o corredor enorme dava acesso a celas ou células com símbolos específicos para os grupos principais de cativos — homossexuais de ambos os sexos, Testemunhas de Jeová, muçulmanos, judeus, negros, ciganos... Cada um era posto numa célula, trancafiado num quarto com outras dezenas de pessoas.
Zelda foi posta no grupo dos ciganos, grupo o qual apenas ela sobreviveu a um ataque e representava com muito orgulho.
Sozinha em seu canto, ainda pensativa, a garota chorou por horas a perda dos pais e dos irmãos. Agora era ela e ninguém mais. Estava presa num lugar desconhecido e condenada a morte, uma morte bárbara, desumana. O desespero a dominou. Mal fizera dezoito anos e estava fadada a um destino cruel.
O seu pranto só acabou quando os guardas apareceram em sua cela, gritando coisas que ela não entendia. Ao ser puxada com força para fora, compreendeu que era hora de sair para alguma coisa.
Todos os prisioneiros foram levados para uma sala larga e comprida no setor, cada um posto diante de um prato com carne crua, ainda ensanguentada, branca como a de frango, e um caneco de ferro com água. Aquilo seria o que comeriam e beberiam.
Um homem se recusou a comer de imediato. Tombou no piso negro com um buraco no olho direito. Houve muitos gritos e choros. O coitado estava ao lado esquerdo da jovem cigana, que não gritou como as outras pessoas; apenas estremeceu um pouco devido ao barulho quase ensurdecedor do disparo.
Ao olhar o chão encardido, ainda com resquícios de sangue bem seco, viu o prato de carne crua sendo envolvido pelo líquido vermelho e grosso, que continha pedaços dos miolos do morto. Era uma cena grotesca, entretanto excitante, envolvente, bela. Sem o mínimo pudor, Zelda pegou a carne com seus dedos delicados e morenos, levando-a a boca. O gosto era estranho, mas bom, muito bom.
Um dos guardas sorriu, apontando para a garota. Os outros se dividiram entre os que gostaram do que viram e os que estranharam, afinal ninguém comia aquilo logo de cara, com tamanha vontade e naturalidade. Tinha que ser muito perturbado para fazer aquilo tão serenamente.
Após a refeição, todos retornaram para seus lugares. E um tempo imensurável se seguiu até que dois guardas surgiram no corredor. Os olhos da cigana os acompanharam atentamente, intrigados. Viram-nos abrirem a célula das lésbicas e agarrarem uma mulher ruiva e de pele branca. O que fariam com ela?
A resposta logo foi respondida: um dos homens despiu-a violentamente ali mesmo, para quem quisesse ver, enquanto o outro apontava a pistola para cabeça da coitada, num gesto de ameaça. Apalpou-lhe os seios desnudos com muita força, avermelhando-os, mordeu violentamente a sua carne a ponto de provocar pequenos sangramentos. Abaixou a calça, revelando um pênis ereto; puxou a cabeça da mulher para baixo, obrigando-a a agachar-se até a altura de sua virilha.
Zelda assistiu ao estupro com grande curiosidade e interesse. Sentia náuseas por ver a violência contra o sexo feminino, algo abominável, e prazer, muito prazer, algo orgástico. Por que aquilo lhe acontecia? Por que simplesmente não sentia uma coisa só? Por que lhe ocorria de sentir coisas opostas ao mesmo tempo?
A vida no setor era monótona depois de alguns dias. Comer carne humana crua duas vezes por dia, ser estuprado ou ouvir e ver alguém o sendo diariamente, servir de cobaia a algum teste. Não havia muita coisa. E o mais trágico era o conformismo. Se houvesse força de vontade para lutar...
Os guardas entraram e fitaram a cela na qual estava a garota. Sorriram. Um deles abriu a porta de ferro com grades enferrujado e pegou-a pelo braço, que se levantou e o seguiu sem protesto. Desconfiava que fosse a sua vez de ser abusada por aqueles homens perversos — e, de algum modo, ansiava-o. Queria saber como era ser possuída por tantos homens ao mesmo tempo, sentir a dor que as outras sentiram, sentir prazer. Contudo, decepcionou-se ao ser levada para outro setor, o de Purificação.
Esta área era muito esquisita, cheia de aparelhos e fios, televisores, coisas que Zelda nunca tinha visto antes em sua curta existência. Era tudo impressionante e fascinante, atraente e assustador. Novamente a ambiguidade a atormentava, deixava-a confusa e surpresa. Isso não era nem um pouco normal.
Puseram-na numa cama de colchão fino e duro, amarrando-lhe os braços e as pernas em correias anexadas ao objeto desconfortável, enfiando a seguir agulhas em suas veias e artérias, fazendo-a arrepiar-se com o toque gélido. Aparelhos principiaram a apitar baixinho por todos os lados. O que pretendiam fazer com ela?
Os cientistas a cercavam ora ou outra, realizando análises preliminares, apalpando partes de seu corpo, examinando a boca, os olhos, a pulsação, a respiração e os reflexos, anotando tudo em pranchetas. Aquilo era estanho e agradável, uma ambiguidade que perseguia a jovem desde criança. Era impossível manter-se fixa numa coisa somente. Tudo lhe atraía de algum modo, duas coisas ao mesmo tempo.
No acampamento cigano, até semanas atrás, ela era mal vista por quase todos. Não tinha amigos. Nunca namorara. Nunca havia sentido a graciosidade que há em ser amada. Havia amado, é claro, mas nunca foi algo recíproco. Sonhava com um abraço, um beijo, a realização de ser mulher. Isolava-se na floresta por horas, precisando de um bom banho para poder retornar à vila. Numa dessas voltas, foi capturada.
Assim que os testes iniciais foram feitos, iniciaram-se os principais. Tiraram fotografias da cobaia tanto vestida quanto despida — algo que inexplicavelmente a ciganinha apreciou. A seguir pegaram frascos com substâncias de nomes desconhecidos e complicados e retiraram pequenas doses por intermédio de seringas. E, por fim, injetaram uma a uma na veia dela, que gemeu de prazer até desfalecer.
Quando voltou a si, estava numa sala toda branca, sobre uma cama de colchão mais macio do que o da outra sala. Ergueu a cabeça, girando-a para o lado esquerdo, confusa. Onde estaria? Levantou-se, pondo-se sentada. Seus pés tocaram um piso liso e morno. As têmporas latejavam um pouco. Olhou em volta com mais atenção, enxergando apenas uma figura humana no outro lado do aposento.
Zelda andou até aquela pessoa agachada, embora estivesse um pouco tonta e atrapalhada nos movimentos. Algo nela estava diferente, mas do que o normal. Parecia sentir melhor as vibrações do ambiente, o ar, o calor, o frio, a gravidade, tudo de uma única vez, ao mesmo tempo. Não era mais como antes, quando ela sentia apenas duas coisas por vez, mas sim agora sentir todas.
Conforme se aproximava, percebia que aquela pessoa era aquele rapaz que vira quando entrara no Formigueiro, apesar de estar muito mais bonito e mais bem tratado do que a primeira vez que o vira. Ele rabiscava alguma coisa no chão, sussurrando palavras estranhas. Ao notar a presença da garota, parou o que fazia e virou-se para ela, erguendo-se.
Ambos se olharam por alguns segundos, tempo suficiente para surgir um desejo neles. Não se entenderiam caso resolvessem falar, mas se compreenderiam perfeitamente de outra forma. Pareciam feitos um para o outro, almas perdidas que agora se encontravam. A aproximação física apenas confirmava tudo.
O abraço apertado, o beijo forte. Tanto o corpo ansiara por aquilo! E tanto a mente devaneara para tentar satisfazê-lo! Porém agora sim ambos se satisfaziam verdadeiramente. O corpo pálido de Zelda fora despido, revelando toda a sua juventude, beleza oriental e pureza, a perfeição de formas belas e atraentes, a fonte da perdição masculina. Cada parte, por mínima que fosse, foi apalpada, beijada, acariciada, mordiscada, sugada, amada. Era algo maior do que a jovem um dia devaneou.
Nus, ambas as cobaias se uniram, satisfazendo-se completamente. Na cama do rapaz ficara o vermelho do fim de uma época de sonhos e delírios virginais. E através de um espelho secreto, cientistas anotavam tudo com largos sorrisos nos lábios perversos, mal sabendo eles que haviam sentenciado o fim àquilo que construíram em poucos dias.


E para não perder o costume:

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Fúria Canina
Alastair Dias


Desde criança havia três coisas que o agradavam: ter a companhia dos cães, aventurar-se pela mata e ver acidentes horríveis.
Enquanto a maioria das crianças se divertia com desenhos e filmes da Disney, ele preferia ver, testemunhar a desgraça humana, o sofrimento, o sangue jorrando, a carne e os ossos expostos como num açougue, a vida por um fio.
Mas, se o sofrimento fosse o de um cachorro, era como se a dor fosse dele também. E isso o atormentava. Um canídeo era muito mais próximo a ele do que a família que o adotara quando ainda bebê.
Aos treze anos, iniciou-se uma sequência de episódios que marcara a sua vida para sempre.
O irmão de criação, um ano mais novo do que ele, maltratara um filhote da raça pitbull. Aquilo o irritou, e o fez bater no outro por longos minutos, até deixá-lo inconsciente.
Em seguida, devido ao incidente, o menino passou por alguns psiquiatras que o diagnosticaram com traços psicopatas. Um dos especialistas até avisou que ele era antissocial
O terceiro episódio foi a internação numa instituição psiquiátrica, pois na época achava-se que a psicopatia era uma doença mental. Isso o fez odiar ainda mais a raça humana, a desejar sangue e morte alheia.
Anos passaram-se. A criança tornou-se um adolescente que sempre buscava a solidão, exceto quando mantinha contato com os cães sarnentos que apareciam ora ou outra no portão da clínica ou no parque. Fugir era algo que até então ele não cogitava fazer, afinal estava num lugar perto da natureza e com pessoas que também foram excluídas da sociedade por algum motivo, por serem diferentes, assim como ele.
No entanto, veio o quarto episódio, episódio que marcaria ainda mais a sua existência.
Uma cadela prenhe passeava pelo pátio, já no final de tarde. Todos os pacientes principiavam a ir para os seus quartos, mas o jovem resolveu aproximar-se do animal, como sempre fazia.
De repente um dos enfermeiros chutou a cabeça do animal, que era uma criatura pequena, com toda a força que dispôs, fazendo-a latir de dor, enquanto o sangue escorria pela boca e o feto saía pelo orifício, coberto de sangue.
Aquela cena enfureceu o rapaz, que avançou para cima do agressor da criatura indefesa. Ele agarrou-lhe o pescoço e apertou, sufocando-o. Uma força descomunal o dominava naquele momento.
Quatro outros enfermeiros tentaram separá-lo da vítima, mas foi em vão. Era como se o paciente tivesse possuído pelo demônio.
Subitamente todo o corpo do jovem contorceu-se, estalando ossos, provocando uma dor inimaginável, um aumento de tamanho e de pelos pelo corpo. Embora sentisse muita dor, ele manteve-se firme, sem soltar o enfermeiro, que agora estava apavorado diante do monstro que se formava perante seus olhos.
A metamorfose prosseguiu. A cabeça do rapaz alongou-se, adquirindo a forma da cabeça de um cachorro, de um rottweiler negro com uma mancha castanha no olho esquerdo. O corpo tornou-se extremamente musculoso, robusto como o corpo de um cachorro da raça que herdara a aparência.
O pânico foi geral.
Quando findou a transformação, o homem que o homem-cão segurava estava morto, com o pescoço quebrado, pendendo para o lado.
Largando a vítima abatida, a criatura avançou sobre outro enfermeiro, abocanhando-lhe o ombro esquerdo e forçando-o a se deslocar ― ação rápida devida a sua mordida de 2,5 toneladas por centímetro quadrado. Sacudiu o membro arrancado, sentindo-se o predador supremo. A seguir, com a pata dianteira direita, pressionou a cabeça da segunda vítima contra o piso, estourando-a facilmente.
Todos corriam desesperados, gritando.
A fera ergueu-se sobre as duas patas traseiras, exibindo os seus quase três metros de altura, todo coberto de sangue. Farejou o pânico de todas as suas vítimas. Libertaria toda a sua fúria ensandecida em cada um que estava ali, uma fúria de vinte anos.
O homem-cão corria pela rua deserta, uivando e latindo, chamando os cães a se juntarem a ele, sendo prontamente atendido. Ele era o rei sobre cada canídeo daquela cidade, um predador voraz e invencível. Na verdade, era o rei de todas as cidades em que passava, caçando cada um que ousasse maltratar um cachorro, libertando os seus irmãos e formando uma alcateia imensa.
Há vários anos deixara aquela vida tola para trás. Agora era ele mesmo, uma fera mortal e terrível, uma criatura muito mais perigosa do que qualquer lobisomem, que, aliás, já tivera contato e lutara, vencendo.
O primeiro contato foi com um membro de uma organização secreta, uma tal Alcateia Global, que fiscaliza os lobisomens do mundo inteiro. Queria recrutá-lo, mas ele se recusou, afinal não era um lobo, mas um cão, um animal que apenas descendia dos lobos, e nada mais.
O segundo contato foi com um grupo de ecoterroristas, o Green Death, que o queria como membro ativo para combater criminosos que acabam com a natureza, mas ele recusou, pois fazia suas próprias leis.
E os demais contatos foram lutas para o homem-cão provar que era superior aos lobos. Era a vez de a fúria canina dominar o mundo, de um cachorro ganhar de uma vez por todas o espaço que era até então do lobo.

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Diz, galera louca que visita este blog!

Esta semana chegou até mim o primeiro trabalho oficial de minha paranoica luta para ser um escritor. Fiquei surpreso pela coragem que tiveram em aceitar meus contos duas vezes (a primeira foi na antologia de Amanda Reznor), mas se o fizeram, o que posso fazer, né?

Agora foi a vez de Alfer Medeiros agregar uma de minhas paranoias ao seu projeto Green Death, no qual (com exceção de mim) só tem gente da pesada, autores incríveis e coisa e tal.

Trata-se do e-book gratuito (esta palavra soa tão marabilhosa) Green Death - Ecoterrorismo Licantrópico Vol. 0.
Quem se interessar em ler o livro eletrônico, clique aqui.
Mas, se você, assim como eu, é aquele tipo de pessoa que não quer entrar em outro blog, transcrevo o que o camarada Alfer Medeiros citou:

E finalmente os lobos foram soltos!

É com muito prazer que apresento a vocês o volume zero do livro Green Death - Ecoterrorismo Licantrópico, um spinoff de Fúria Lupina feito por alguns autores convidados. Clique aqui para baixar o livro em PDF.
Nesta edição temos a participação dos autores Alastair Dias (eu), Amanda Reznor (prefaciadora do Pulp Brazil e organizadora de Sala de Cirurgia), Carolina Mancini, Celly Monteiro (a fantasista que o Alec tanto gosta de elogiar), Diego Alves (um autor quetem muito futuro), Gerson Balione, IAM Godoy, Marcelo Claro, Mariana Albuquerque, Rosana Raven, Susy Ramone e Tânia Souza.

A revisão é da Adriana Cabral e a diagramação ficou por conta do Rochett Tavares (este cara sim é minha inspiração nacional).

Leiam e fiquem atentos, pois em breve tem promoção "lobisomística" relacionada a este e-book! Boa leitura.
E ainda tem para semana que vem outro e-book, mas isto é para a próxima postagem.
Uma imagem para inspirar os manos:
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Título: Xeque-Mate
Autor: Paul Law
Gênero: Literatura Fantástica/ Aventura/ Suspense
Número de páginas: 138





Devido a agenda cheia, Alec Silva me pediu para resenhar este pequeno e curioso livro de Paul Law, um grande amigo nosso. Aceitei a tarefa por ter apreciado a leitura, sobretudo na metade em diante.
Ao ver a capa do livro, eu me perguntei "Que borra é Xeque-Matel?". Li a sinopse e fiquei intrigado. Abri a obra e li agradecimentos e apresentação, cada vez mais intrigado. Fui lendo um, dois, três, quatro capítulos... já eram seis quando tive de parar; quando dei por mim, estava envolvido no enigma do Xadrez de Pai. Mais flashbacks e personagens surgindo, o que me fez ficar mais confuso do que já sou. Senti falta de mais descrições, porém é o estilo do autor e acabei ignorando.
Assim como Alec, sou mais inclinado ao fantástico e começava a recear que Paul fosse me decepcionar, contudo logo o toque de realismo mágico surge com o Rei e a trama ganha a cara que mantém até o final, tornando-se eletrizante e fulminante. Aí, meu chapa, ler a história foi um pulo felino. E veio o vazio e o desejo de ler a sequência — acredito piamente de que haverá.
Fazer o bem não é algo objetivo, como muitos tolos pensam por aí, e Xeque-Mate nos mostra exatamente isso. Às vezes a prática da chamada "bondade", os atos que nela se encaixam, representa fazer o que se chama de "mal necessário". As Peças do fascinante Xadrez servem para fazer o que é preciso, limpar o Tabuleiro de qualquer vestígio que atrapalhe o Jogo. E não demora muito para que as Peças desnecessárias também sejam descartadas em sacrifício. Isso se chama "vida", uma obra de milhares de capítulos e sem protagonistas ou antagonistas fixos, pois somos todos coadjuvantes.
No demais, as frases do autor transmitem ideias e pensamentos filosóficos que não apenas resumem os capítulso que abrem, como também nos fazem — ou pelo menos fez a mim, um cara meio inclinado a reflexões psicopáticas — pensar um pouco. Sou incapaz de selecionar alguma que tenha sido a melhor, mas cada uma dá um toque filosófico a uma obra com claras referências dos quadrinhos, do cinema, da televisão e da literatura.
Paul Law, assim como o Pai, pode não conseguir mudar o mundo com boas ações tão grandiosas e mirabolantes, mas está tentando com gestos pequeninos e aparentemenet insignificantes. E tentar, num mundo de inércia e materialismo, é um grande começo para se alcançar um sonho, mesmo que seja o de um menino-grande e que apenas quer contar uma história a alguém.

NOTA: 9,2

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O conto abaixo é uma prévia de um livro que pretendo escrever até o mundo acabar em 2012.

Ele está lá fora. Sim, está desde o início desta maldita noite fria e negra, nublada e cheirando a morte. Ele me olha com aquele olhar vermelho de sangue. Não se move nem sequer um milímetro. Parece que espreita a minha alma sofrida e desesperada. Já carreguei o revólver que sempre mantive guardado numa gaveta do guarda-roupa, entre as minhas roupas. Não, não é para ele, afinal não morrerá com tiros de balas comuns. A sua figura sombria, animalesca, humanoide, revela que não se trata de uma criatura natural, mas sim um demônio, uma besta do Inferno.
Eu tento ler um livro, mas a sua presença me é constante, apesar de estarmos a cinquenta metros de distância um do outro e termos uma janela de vidro blindado nos separando. Isso me incomoda imensamente. Arrisco-me a olhar para fora e o vejo ainda sentado ou em pé, olhando a minha alma.
A madrugada se aproxima e o sono não. Na verdade, creio que durmo e tenho este pesadelo. Desde criança sempre tive medo dele, daquela figura canina e negra. Freud com certeza diria que a imagem do demônio que está lá fora é o reflexo de meu medo de cães negros. E o que estou tendo é um pesadelo.
Eu pego o revólver e checo as balas. Já não aguento mais tanta tortura. Se for sonho, pesadelo, eu acordarei ao puxar o gatilho e não mais verei a figura animalesca e humanoide lá fora. Se for realidade, dormirei no sono da morte, irei encontrar talvez a minha esposa e o meu filho, ambos mortos por um assassino e estuprador. A morte, enfim, parece-me a solução para todos os meus problemas.
Aponto o cano da arma para a minha têmpora esquerda e dou uma última olhada para fora e percebo que ele ainda me olha, agora ainda mais maligno e demoníaco. Puxo o gatilho. O meu corpo tomba numa poça de sangue, com um grande buraco na cabeça. Estou morto.
Mas a figura sombria do cão negro ainda permanece...
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Bem, após intensa atividade (paranormal), consegui o olhar de Renato Dieckson, da RHS Editora para este projeto, portanto, aguardo a sua aprovação final para tal.

Enquanto isso, participem e deixem o restante comigo!

Por meio venho tornar oficial a Antologia Pulp Brazil, cujo intuito é reunir autores dos mais diversos gêneros literários para a elaboração de uma obra de literatura nacional, sob a responsabilidade de Alec Silva e dos membros da Crazy Artística.

Para nível de facilitação e entendimento, seguem algumas regras a serem observadas:
        I.            É de livre e espontânea vontade a participação neste projeto, cuja finalidade é divulgar os autores e seus textos, não havendo portando qualquer seleção de autor, conto ou tema, observado, porém, que nem um dos itens fira moralmente pessoas, entidades, credos, etnias ou outros aspectos sociais e humanos.
     II.            Cada autor pode enviar quantos textos quiserem, porém até dois poderão integrar a obra.
   III.            Serão aceitos textos de quaisquer gêneros literários, exceto os de caráter racista, pornográfico, político/partidário, homofóbico, pedofílico, preconceituoso, e afins. Textos de temática fantástica serão preferíveis, mas nada impede o autor interessado de enviar textos românticos, de suspense, aventura, moralista, etc. Contos, crônicas e poesias serão lidos e aceitos em igual medida.
  IV.            O número de autores para a obra será de 15 a 20, tendo cada um de 10 a 15 páginas na obra. Caso haja mais interessados, haverá um segundo volume depois de transcorrido alguns meses do lançamento do primeiro.
     V.            No arquivo do conto, enviar dados pessoais básicos, como nome completo, pseudônimo (se houver), idade, contatos principais, biografia de até cinco (5) linhas, categorias que o texto se enquadra. As demais informações serão pedidas apenas na assinatura do contrato de publicação.
  VI.            A Crazy Artística, como atuante idealizadora da obra, negociará diretamente com a editora que se interessar, fará a capa, as ilustrações, banners, divulgação e promoção da antologia. Também entrevistará os autores envolvidos com o objetivo de promover obra e autor.
VII.            O prazo de envio é de até dois meses a partir da data da publicação deste edital ou até que haja o número máximo de participantes. Em caso de mais da quantidade estabelecida, poderá haver segundo volume da antologia, como já citado no Item IV. Os textos deverão ser enviados para iung-tao@hotmail.com com cópia de segurança para drakon.iung.tao@hotmail.com.
VIII.            O autor que enviar o texto se compromete a aceitar os itens aqui citados e as condições apresentadas, além de se responsabilizar pela originalidade do texto, garantir o interesse em participar da obra e ajudar na divulgação da mesma.

Os casos omissos neste edital poderão ser esclarecidos com o organizador, Alec Silva, assim como qualquer dúvida e sugestão.

Não havendo mais a registrar, deixo aberto o edital para Pulp Brazil, editora a definir.

Luís Eduardo Magalhães, Bahia, 03 de Novembro de 2011.
Alec Silva
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